segunda-feira, 16 de julho de 2007

Mulher casada


Eu e a minha irmã mais velha, a Ranhosa, sempre tivemos uma boa relação, até ela casar. Para mim, ela era uma rapariga de mente aberta, que gostava de sair e de se divertir. A nossa relação esfriou um pouco quando ela casou e gelou quando a minha mãe morreu.


É engraçado que reconheço-a em qualquer lado, se ela estiver de costas. Primeiro, porque tem um jeito de andar muito peculiar, sempre acelerado, como se não tivesse tempo a perder e depois, porque se estiver acompanhada por outras mulheres ela gesticula muito, mostrando toda a certeza do mundo sobre o que está a falar. Ao lado do marido, ela não gesticula.


Ela trabalhava com a minha mãe. Na empresa onde estavam as empregadas tinham ou a idade da minha mãe ou a idade da minha irmã. Ser casada era como pertencer às mais velhas, ser responsável, ter um "home". Quando ela casou, passou a ser uma senhora (na ideia dela), passou a saber mais sobre o mundo (ah!!! a descoberta maravilhosa das quecas... numa cama), passou a andar mais rápido porque tinha uma casa para cuidar, passou a gesticular mais porque agora sabia mais que as amigas, tinha outros objectivos e (queria ela dar a entender) outra liberdade. É que a minha irmã casou há 13 anos, percebem? Eu já faço outra vida e tenho outras ideias, mas ela ainda vem de uma geração em que liberdade significava sair da casa dos pais para casar.


Não foi só ela. Mais ano menos ano as amigas foram casando e saindo de casa. Deixaram de se ver fora do trabalho. Já não eram meninas. Eram senhoras, com uma casa e marido para cuidar.


Hoje, algumas delas, já se viram livres dos maridos, outras encontraram nestes o apoio necessário para esperarem mais da vida, foram terminar os estudos, procuraram melhores empregos... uma até foi viver para o Algarve e hoje é agente imobiliária e com muito sucesso, o que a faz roer-se um pouco. Porque ela, afinal, não tinha assim a mente tão aberta, não sabia assim tanto do mundo e não tem opinião. Faz o que o marido manda e passa a imagem de que é o que ela quer também.


Até as senhoras da geração da minha mãe são, hoje, muito mais livres que ela. Com 50 anos organizam jantares com as amigas, vestem a última moda, maquilham-se e vão sozinhas ao café e ela olha-as com inveja, disfarçada de censura. Onde já se viu? Viver a vida como ela merece! Que escândalo!

17 comentários:

Maria Papoila disse...

Desculpa lá a intromissão nos assuntos familiares,mas se calhar o teu rico cunhado é daqueles que controla tudo e não faz a vida fácil à mulher... Será?

Babe Certificada disse...

Daí que a minha relação com ela esfriasse por completo. Que ele seja um parvalhão, está no seu direito, o que eu nunca consegui aceitar foi que ela se sujeitasse. Afinal, a minha mãe não nos educou para sermos fantoches nas mãos de um homem.

Maria Papoila disse...

Conheces aquela velha expressão "o amor é cego"?
É uma pena, mas acredita que a tua irmã não é a única. Conheço pessoas que nem sequer casaram, nem vivem juntas e já se deixam governar pelas vontades do outro...
Por isso, olha, não te enerves. Cuida de ti e nunca te deixes chegar a essa cegueira extrema!
Não te esqueças: a vida dá muitas voltas!

VF disse...

Por momentos - ainda que breves - assustei-me quando associaste a tua irmã com "um jeito peculiar de andar"... mas depois percebi a ideia... um alivio portanto!

As mulheres de hoje são muito piores de que aquelas que têm 50 anos. Porquê?

Porque as mulheres de hoje podem esperar mais da vida de casadas mas não se querem chatear, ou então acomodam-se.
As senhoras de 50 anos até quereriam mais, mas não podiam!

E infelizmente há cada vez mais mulheres de 70 anos encerradas em corpos de 25!

Babe Certificada disse...

Maria Papoila

A verdade é que a cegueira já passou, mas ela esforçou-se tanto em criar uma imagem da vida dela, que nunca há-de fazer nada para a melhorar. Acomodou-se, rendeu-se. Vá lá, que tenho outros exemplos a seguir! :-)

Vitor

O que pensaste sobre o andar???

A última frase lembrou-me a Lili Caneças. Era a ela que te referias???

Vício disse...

o teu cunhado deve ser muito infeliz por ela não gesticular para ele...

Babe Certificada disse...

Vicio

Que quê? Ele é muito feliz, porque ela faz tudo o que ele manda! Até gesticula e salta ao pé coxinho, se ele disser.

Afgane disse...

É engraçado, muitas das minhas amigas mudaam radicalmente com o casamento, tornaram-se inseguras e quando as ia cumprimentar olhavam para todos os lados para verificar se alguém estava a ver. Curiosamente os meus amigos que casaram mudaram mas para pior, não param em casa e dizem que nunca estiveram tão bem na vida.
Por este andar e se é assim tão bom ainda me caso he he he
Beijos

Ana disse...

Acho que tem a ver com a mentalidade de cada um e com o tipo de relação que se instala.
Eu sempre tive uma maneira de ser independente e, quando vivi 4 anos junta, sempre mantive essa independencia.
Obviamente que há hábitos que se alteram um pouco, afinal.. temos uma pessoa ao nosso lado, a viver debaixo do mesmo tecto, mas há coisas que se devem manter e que dizem respeito á privacidade e á auto-estima de cada um.

bjs

Gaja Boa 2 disse...

Ha muitas, infelizmente, como a tua irmã! Ser velha não é cronológico, é da cabeça! Conheço muita jovem velha e muita velha sempre a rockar!
Quando digo a rockar não significa só a curtir, mas sim a serem espontãneas, naturais e senhoras da sua vida sem complexos!

Um beijo e paciência

Marta disse...

Sabes que eu sei que a minha mãe só vai descansar quando eu me casar? É como se dentro dela, sentisse que a minha vida sem "marido" não está estável, nem arrumada! Como se eu estivesse desprotegida...estranho!

Topo de Gama disse...

A mentalidade das pessoas é a razao mais "normal" pra justificar esses casos... Sinceramente nem sei se é de censurar mais a opçao de vida da tua irma ranhosa, ou do teu cunhado..

Nao vejo vantagens em ter alguem reprimido e submisso ao lado..

beijo

Babe Certificada disse...

Afgane

Acho que só tenho uma amiga casada e ela não mudou muito. Mas, ela é mais ou menos da minha idade, e o namoro não foi como o da minha irmã. Sabes que há uns anos atrás não se ia de férias ou fim-de-semana com o namorado. Conheciam-se tão mal que só depois do casamento se davam conta de quem ela ou ele era.

Ana

Claro que a forma de ser também conta. E eu sempre a julguei independente e segura. Claro que casar aos 21 anos não deve ter ajudado. A minha outra irmã casou muito mais tarde e tem um óptima relação com o marido.

Babe Certificada disse...

Gaja boa 2

Sim, há muitas assim. Claro que não foi o casamento dela que abalou a nossa relação. Infelizmente esta submissão ao marido levou a que se afastasse de nós e o meu pai é quem mais sofre por ter uma filha distante (mas que vive a meia dúzia de metros).

Marta

Sabes que o meu pai só arranja namorada quando eu casar? Já viste a pressão? Enquanto viver lá em casa, ele não mete ninguém lá!!!

Babe Certificada disse...

Topo

O meu cunhado só é assim com quem lhe cede. Nunca me falou "do alto" porque nunca teve hipótese. Geralmente manda a minha irmã dar a cara.

Quanto a ela, só aceita porque quer. Sempre teve uma familia que a apoia e optou por afastar-se para ficar só com ele.

A dona do blog disse...

és gira, tu.

Babe Certificada disse...

a dona do blog

Por acaso até sou!!! :DDD