domingo, 8 de julho de 2007

O Pai Natal e o Menino Jesus



A minha descrença foi gradual. Não acordei um dia e disse "Vou deixar de acreditar". Não. O primeiro momento de dúvida foi quando descobri que afinal não existia Pai Natal. No meu tempo de criança, a publicidade não era como agora, não havia grandes superficies a cada esquina, lojas bonitas e chamativas só nas grandes cidades, logo não havia aqueles pedidos frenéticos e exigentes deste ou daquele brinquedo. Tudo o que vinha era bom. Desde a caixa de chocolates, as "Barriguitas", os "Nenucos",... A maior alegria era acordar e descobrir os presentes! Por isso, descobrir que afinal eram os pais que lá punham os embrulhos debaixo do pinheiro, foi a maior desilusão do mundo (à escala de uma criança de 6 anos).



Para começar, foi na catequese que me deram a terrível notícia. E eu, já devia ter um carácter prático na altura, achei dificil de engolir que existisse um Menino Jesus, quando afinal não havia um Pai Natal. Porque tinha de deixar de acreditar num e acreditar noutro???




A seguir, aquela obrigação de ir à missa. Ainda que o padre fosse porreiro e houvesse danças e umas músicas engraçadas, não deixava de ser chato. Não entendia e não gostava.

Depois, entrei na adolescência. No meu tempo entrava-se na adolescência pelos 13, 14 anos... Agora, aos 9, o Ken já não é o namorado da Barbie que lhe dá a mão e a leva a passear no carrito cor-de-rosa, mas sim o seu amante das noites escaldantes! :-))) Ou seja, comecei a questionar o porquê das coisas. E achava mesmo inacreditável que as catequistas me dissessem o que era certo e o que era errado. O divórcio é errado? E se o marido espancar a mulher todos os dias? Continua errado? A resposta era... silêncio.

A juntar a tudo isso, não ver nas personagens principais da Igreja os exemplos que deviam ser, ver que quem ia à missa ainda era pior com os outros do que aqueles que não iam, quem mais apregoava a moralidade era quem mais pecava... deixei de facto de fingir que acreditava na existência de um Deus, tão poderoso, tão poderoso que, segundo passagens da biblia, puniu severamente quem não acreditava nele. Tão poderoso que não impedia as guerras, a fome, a pobreza... era tudo fruto da mão do homem... que ele tinha criado... à sua semelhança (???)...


MAS... ainda assim, apesar de toda a minha descrença por estes e por muitos mais motivos... tenho maior respeito por aqueles que têm fé... por aqueles que têm o dom de acreditar, sem provas concretas e científicas. Aqueles que confiam, que acreditam... Espero que sejam bem mais felizes que eu por terem essa capacidade.

No entanto... tenho visto vários exemplos de pessoas que acreditando em Deus, têm perdido fé na humanidade. Refugiam-se cada vez mais no seu Deus, nos seus ensinamentos, desconfiando das pessoas, da sua sinceridade, da sua capacidade de dar sem exigir nada em troca...

Eu... acredito nas pessoas. Acredito que todos nascemos com todos os elementos bons dentro de nós, mas que são os percursos da vida que nos vão alterando. Acredito que podemos ser sempre melhores, basta querer. Acredito que quando digo algo, quando me comprometo a fazer algo, tenho essa intenção real e tudo farei para a cumprir. Acho que ainda é aquela faceta de que mais me orgulho em mim: a capacidade de acreditar nas pessoas. A minha fé na raça humana.

Claro que... claro que... todos os dias (ou quase) me desiludo, me desiludem. Basta ver as noticias, sempre terríveis... Basta ver o dia-a-dia, pequenas coisas de nada, onde somos terrivelmente mal-tratados pelas pessoas pelos mais variados (e insignificantes) motivos. Basta ver a confiança, a fé, que depositámos em alguém e depois, por motivos egoístas nos magoam. Mas, ainda assim insisto em acreditar nas pessoas. Porque se não acreditar que é possível... que raio fazemos aqui?

12 comentários:

Mercúrio disse...

Não alinho muito nisto dos desafios... mas olha... aceitei e lanço-to a ti

Espreita lá o meu canto

;)

Diabba disse...

Ahhh mais uma infiel... na idade média ias para a fogueira!!

Não sei se o céu existe ou não, se há um Deus, ou não... uma coisa é certa o Inferno existe e, cada um tem o seu!

beijo d'enxofre

PS: Eu tento que o meu Inferno seja pacifico e sem stresses... e tu??

Anónimo disse...

Há mentirinhas que fazem tão bem!...
Prejudiciais não1.. Mas daquelas que se engolem como se de um copo de água se tratasse, muitas vezes são necessárias e o certo é que nunca devemos de acreditar em tudo por muito que mostrem estar a ser sinceros. Beijinhos desconfiados.

Ana disse...

Torna-se cada vez mais difícil acreditar seja no que for, principalmente quando todos os dias nos dão motivos de sobra para não o fazer.

Eu gosto de dizer que continuo a acreditar nos outros, mas... no fundo, cada vez acredito menos.

Beijinhos

Anónimo disse...

Bolas, ando á que tempos e não conseguia comentar os teus posts Babe!! Andava a ficar possuida e tentada a escrever um post sobre o assunto!!
MAS DEUS EXISTE E FINALMENTE CONSEGUI!! (tou no gozo).
Resumidamente, educação catolica, escuteira 12 anos,baptizada,na vespera da primeira comunhao fui obrigada a confessar-me e achei ke akilo era um ainvasão de privacidade imensa e a verdade é que só contei as coisas menos pecaminosas (na altura p mim tirar 100 escudos da carteira da minha mae de surra era punivel com pena de morte na minha ideia, mas smp gostei do risco!).Mas no meio disto tudo,nunca acreditei em DEUS como os meus coleguinhas, nunca olhei po céu e achava que Deus tava lá em cima, achava que deus era tudo e tudo era deus, cheguei a uma altura que pensei que o meu gato na altura era deus e ke me observava a todo o momento (ke inocente).
O que eu acho é que as pessoas precisam de se agarrar a algo nos momentos mais dificeis, arranjar uma explicação para a "salvação" e um culpado para tudo o que corre mal. Se deus existe mesmo, porque ha guerras e morre tanta gente inocente? Será que mereciam? Será que Deus tem algum tipo de preconceito e não protege aquelas pessoinhas que morrem? Porque que Deus não salvou os meus amigos de certas doenças? Porque que Deus ja me fez estar paralisada tanto tempo? Será que me portei mal e fui castigada? Mas só tinha 10 anos, peço desculpa SENHOR DEUS, obrigada por me teres tirado do castigo....
Quanto ao Pai Natal...esse desculpa mas existe!! Aind anão viste o gajo da liga dos ultimos?? "Pai Natal é Deus" "E quem é Deus?" " Deus é o Pinto da Costa!!"
Ah agora de repente percebi porque Deus negligencia tanta gente...

Anónimo disse...

Babe, gostei muito deste teu post.

Tal como tu, a minha descrença também foi gradual... e actualmente sou uma descrente aguerrida!

Eu também tenho respeito por aqueles que têm fé, e admito que gostava de voltar a ter alguma, mas cada dia parece-me mais difícil, para não dizer impossível.

Eu não só perdi a fé em Deus como também perdi a fé na Humanidade. E sim, sou muito desconfiada, porque são poucas (muito poucas!) as pessoas que dão sem exigir nada em troca! Ao contrário de ti que insistes em acreditar nas pessoas, eu já há muito desisti... O que ando aqui a fazer??? Não sei... talvez o Todo Poderoso tenha um plano secreto para mim...

Babe Certificada disse...

FC

Vi e respondi.

Diabba

O inferno existe, de facto, mas tem dias. E tem muito pouco de pacifico e ou calmo... muito pouco.

António Rosário

Viver naquele mundo de ilusão é lindo e estimula a nossa criatividade e imaginação. Mesmo hoje, o Natal não teria aquela magia se todos não fingissemos que ele é mágico, não é?

Ana

Eu forço-me a ter fé nas pessoas... porque, no fundo, também faço asneiras e quero que me deêm oportunidades e que acreditem em mim.

Texuga

Andei dos 4 aos 8 anos nos escuteiros, mas até aí havia as cunhas. Ás vezes só sabíamos de viagens, passeios ou festas depois de elas terem acontecido e virem as "escolhidas" mostrarem as fotos. As minhas irmãs deixaram por isso mesmo, e eu não quiz continuar sem elas.
Mas, fiz 10 anos de catequese para ser crismada. Aqui era obrigatório, embora as cunhas também funcionassem. :-(
Por isso, a descrença foi crescendo, crescendo...

Black Cat

É dificil, mas é a minha batalha pessoal. Ter esperança. Acreditar que os meus sobrinhos vão ser bem-formados e respeitadores, mas enfim, mais que a educação dos pais, a própria sociedade tem muito poder na formação de caracter das pessoas.

300Miles disse...

(Deus) "criou um mundo cheio de sofrimento e dor, e é-lhe indiferente; puniu inocentes pelas falhas de outros; criou um lugar de sofrimento eterno, coisa própria do mais sádico e cruel dos seres; gosta de ser louvado e glorificado, mostrando uma vã e fútil vaidade, indigna de um ser com tanto poder; criou Satanás e as ferramentas para que alguns de nós fossem tentados a desobedecer-lhe, sabendo que isso aconteceria necessariamente; e castigou-nos a todos por isso; é mau. Mas enfim, é o mundo que temos: fomos criados por um Deus maldoso».

in www.ateismo.net

Qual é a lógica da crença religiosa? Tem a ver com uma educação católica, que já existia antes de nós e por isso mesmo não é questionável - diz a minha mãe...
Qual é a lógica do ateísmo? Pensar pela nossa cabeça - digo eu.

Gaja Boa 1 disse...

Se já acreditas nas pessoas... Olha já é um valente milagre!!!

Eu custa-me acreditar nas pessoas...

Beijos credíveis

Marta disse...

Há quem diga que vejo as pessoas demasiado cor de rosas, mas a verdade é que tam,bém acredito que no fundo todos temos algo bom, o que nos diferencia são os medos, os bloqueios e consequêntemente as diferentes escolhas que fazemos.

Vício disse...

para além de que quando acontece algo que não gostas, numa pessoa podes dar um par de estalos (convem fugir depois!)

Babe Certificada disse...

Phia_t

As passagens da Biblia foram sempre algo que me impressionou, pois só via dor, sofrimento, vaidade e egoísmo. No entanto, insistem em fazer-nos crer que não. Aqui já não vale a pena insistir.

Gaja Boa 1

Eu acredito na potencialidade de cada um, na sua capacidade de ser melhor, mas sei que muitos já passaram o limite, para eles já não há volta a dar. Mas vou tendo esperança.

Marta

Idem, aspas, aspas.

Vicio

Sempre prático!!!